Uma autista em crise e um médico capacitista.
Uma autista em crise e um médico capacitista.
Por Jeane Rodrigues @autistaeterapeuta Autista; mãe atípica; psicoterapeuta expert em Autismo; escritora e Conselheira Estadual da ONDA-AutismoS em Minas Gerais.
A mistura perfeita pra uma mulher autista com TAG - Transtorno de ansiedade generalizada entrar em crise por sobrecarga.
E foi exatamente o que aconteceu.
As crises foram tão fortes que alteraram inclusive minha pressão arterial que, por tradição, sempre foi baixa (às vezes, até demais).
Então, me vi com a pressão superalta a ponto de precisar ser atendida na emergência. Por quatro vezes numa mesma semana.
Num desses atendimentos, considerei que fosse importante informar ao médico sobre meus diagnósticos: TEA, TDAH, TAG...
E, para minha surpresa (só que não), o médico decidiu não só questionar, mas invalidar meus diagnósticos.
Não bastasse a situação difícil que estava vivenciando, ainda tive que lidar com um profissional que, me vendo pela primeira e única vez na vida, se achou no direito de me perguntar: "E onde foi que você arrumou essa "ruma" de diagnósticos?"
Eu já em crise (razão pela qual estava lá na clinica PARTICULAR), me vi numa situação em que discutir só me deixaria pior do que já estava.
Portanto, me limitei somente a responder que havia sido avaliada por bons profissionais durante quase 1 ano.
Não satisfeito, ele tentou me convencer de que eu tinha Transtorno de personalidade bipolar. Questionou se, quando eu andava na rua e via lojas, não sentia impulso por comprar. Além de outros que não merecem ser citados aqui.
Estou escrevendo sobre isso porque o mês de abril se aproxima. E muito provavelmente essa clínica e esse profissional farão publicações dedicadas à conscientização do Autismo.
Quanta ironia! Quanto absurdo vemos acontecer todos os anos! Todos os dias.
O capacitismo existe. Está sempre nos esperando numa porta de consultório que se abre, numa entrevista de emprego, num almoço de família, numa matrícula na escola...
E sim. Médicos podem e, muitas vezes, são capacitistas. Invalidam nossa história e invalidam inclusive o trabalho de seus colegas de profissão, que nos avaliam e nos entregam como resposta um laudo diagnóstico.