Culpabilização da maternidade atípica, você sabe o que é?
Culpabilização da maternidade atípica, você sabe o que é?
Por Elaine dos Santos Andrade Almeida
Conselheira Estadual da ONDA -AutismoS/SP
Coordenadora do Projeto TEAcolher Mães/Mulheres
Tecnóloga em Gestão Pública e mãe de uma pessoa autista.
Infelizmente, as mulheres, desde a época das cavernas, são vistas como frágeis e incapazes. Em uma visão preconceituosa, para alguns ainda, as mulheres são fracas e insuficientes. Em uma visão errônea em âmbito familiar, geralmente, responsabiliza-se a mulher se ela não for boa dona de casa, se não for esposa dedicada e mãe que não educa os seus filhos. Esses são alguns exemplos da culpabilização imposta pela sociedade às mulheres. Seguindo esse viés, a culpabilização das mães atípicas é a culpa que a sociedade coloca nas mães pela deficiência de seus filhos, como se elas fossem as causadoras da deficiência.
No caso das mães atípicas, mais precisamente, das mães de pessoas autistas, a culpabilização também está presente. Nas décadas de 1940 a 1960, o psiquiatra Leo Kanner afirmou que o autismo ocorria por conta da má relação das mães com seus filhos, assim, chamou-as de "mães geladeiras", como se elas não se importassem e não dessem carinho e afeto aos seus filhos, e, por consequência, os filhos apresentavam o autismo. O que Kanner não observou foi o esforço das mães em interagirem com seus filhos, o que, muitas vezes, não lograva êxito por conta do autismo.
Não bastasse a afirmação incorreta de Kanner, o psicólogo Bruno Betthelheim ratificou essa premissa falsa e escreveu em seus artigos que as crianças desenvolviam o autismo por conta da frieza de como eram tratados por suas mães.
Após muitas décadas se passarem, ainda ouvimos por aí essa afirmação, a qual, cientificamente, já foi contestada. Ainda assim, depois do resultado de muitos estudos retificarem essa afirmação, há os que dizem que a culpa de a pessoa ser autista é da mãe, ou porque não dá educação, ou porque mima demais, ou porque não impõe regras. Mesmo hoje, com todos estudos realizados e que indicam fatores genéticos e ambientais para a condição do autismo, a sociedade culpa as mães. Mães essas que, por volta da década de 80, tornaram-se ativistas, unindo-se no mesmo propósito para requerem condições de saúde e educação para seus filhos.
Após anos de luta, as mães ainda vivem sendo culpadas, até mesmo ao procurarem especialistas quando desconfiam do diagnóstico, e escutam de alguns profissionais despreparados barbaridades, quando não são chamadas de loucas, que elas estão procurando "doença" nos filhos, ou até mesmo querendo aderir à "moda" do autismo.
Por mais que estejamos em outros tempos, ainda há de se lutar contra a culpabilização dada às mães de pessoas autistas. Essas mães precisam lutar todos os dias com várias questões e ainda precisam explicar que a culpa não é delas.
Trabalhar a aceitação de ter um (a) filho (a) no Transtorno do Espectro Autista não é fácil, o sentimento de culpa é natural, uma vez que não se tem conhecimento dos fatos. Qual mãe que nunca ouviu falar no Autismo, não se culpou? No descobrimento do diagnóstico, isso é muito comum e muito difícil de lidar. Porém, com o tempo, elas descobrem que não existe um culpado, muito menos elas, as mães. Tão importante quanto as mães se livrarem desse peso é a sociedade se conscientizar e apoiar essas mães, que são as pessoas por vezes mais importantes na vida das pessoas autistas. São elas que estão lado a lado, com muito amor, afeto e carinho, as que aquecem, jamais as que gelam.
Fonte:
www.scielo.br
https//periodicoscientificos.ufmt.br
https//educacaopublica.cecirj.edu.br