As escolas ensinam ou traumatizam?

As escolas ensinam ou traumatizam?

Por Cláudia Moraes
Vice-Presidenta da ONDA-Autismo

Membra do Conselho Profissional da ONDA-Autismo

Mestra em Educação com Especialização na Formação de Professores, Especialista na Educação naPerspectiva do Ensino Estruturado, Pedagoga,Professora com Adicional do Magistério

Criadora do perfis @profclaudiamoraes @autismofeminino @superdotacao_entreirmas

Voluntária do Instituto Autismos

Voluntária do IFRJ/Resende



Nesse dia 21 de Setembro, Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, gostaria que juntos refletíssemos como a escola inclusiva tem desempenhado seu papel na vida de alunos autistas, que são também nomeados pessoas com deficiência a partir da Lei 12764/12.

No Brasil, a fundamentação para a implantação da educação inclusiva se iniciou em 1994, com a Declaração de Salamanca, na Conferência Mundial de Educação Especial. E, em 2000, houve a implantação da política sobre a educação inclusiva. Todavia, nesses 22 anos, o que temos realmente em resultados para a inclusão dos autistas?

Segundo o periódico da UNB ( Universidade de Brasília), “Educação inclusiva é um processo que busca recolocar na rede de ensino, em todos os seus graus, as pessoas excluídas (necessidades especiais, distúrbios de aprendizagem ou deficiência, excluídas por gênero, cor ou outros motivos).”

Nesses 22 anos de implantação, o que nós autistas temos de resultados que merecem nossa comemoração?

Infelizmente, resultados positivos ainda são pulverizados, vemos uma escola ou outra fazendo um bom trabalho, mas no geral ainda as escolas não se apropriam do processo inclusivo devido ao despreparo, à falta de capacitações, mas principalmente a grande diferença se daria por meio de mudanças atitudinais.

Em conversas com pais, assistindo seus depoimentos e seus apelos, o que venho percebendo é que, nesses 22 anos, criamos uma geração de autistas traumatizados com a escola. Não estudam, mas sim enfrentam, no dia a dia, a normatização e o não entendimento das suas necessidades individuais, as atitudes negativas em relação ao próprio processo inclusivo (muitos professores veladamente resistem em aderir à inclusão), o bullying que destroça indivíduos sem ser combatido.

Eu, como educadora, gostaria de, neste texto, pontuar apenas os benefícios da educação inclusiva, mas, enquanto ela apenas se alicerçar em discursos vazios, e eu ver o quanto autistas abandonam os espaços escolares traumatizados, desenvolvendo condições dolorosas por não suportarem mais esses ambientes, preciso chamar a atenção para o assunto.

E, mais uma vez, levanto a bandeira de que os espaços escolares não necessariamente precisam ser escolas, que a massificação dos indivíduos em classes numerosas e impessoais não ajuda o aluno típico, nem o atípico, que as capacitações baseadas apenas em teorias não ajudam a prática do professorado, eles precisam aprender “como” fazer as adaptações. Nesses mais de 20 anos, não consegui mudar o meu pensamento de que escolas especializadas poderiam ser ponte para uma parte do alunado autista que tem maiores demandas conseguirem seu espaço nas escolas inclusivas, com menos traumas e mais aceitação. O processo de inclusão seria gradual e menos traumático para alunos e professores.

Gestores e professores precisam entender que autistas nível 1 podem sim necessitar de adaptações e adequações e que é direito ter acessos a elas; que autistas nível 2 podem ter maiores demandas em questões distintas que devem ser contempladas; que autistas nível 3 podem sim aprender e estar nas escolas regulares, mas, para isso, necessitam de maior suporte, e não de serem os elementos indesejados na vida acadêmica, até que os pais desistam.

A diferença para o bem precisa sair dos discursos e partir para a prática raciocinada e embasada em formações funcionais e efetivas. A inclusão verdadeira demanda positividade e conhecimento.

Fonte: https://periodicos.unb.br/index.php/linhascriticas/about