Hiperfoco no TEA

Hiperfoco no TEA

Por Cláudia Moraes
Vice-presidenta da ONDA-AutismoS


É definido como um interesse e foco intenso, em um ou mais assuntos. Isso pode durar ou passar com o tempo.
Alguns profissionais desejam que o autista abra mão desse interesse em prol de outras atividades, outros pensam que se devem estabelecer horários para que haja acesso, outros pensam que trazer os hiperfocos para o contexto presente permitirá maior interação e atenção do autista.
Esquecem que cada autista é único e seu “estar” no mundo é diverso. O que funciona para mim pode ser totalmente diferente das ações aplicadas a outros autistas/hiperfocos.
Muitas pessoas autistas podem falar por horas sobre os seus interesses restritos, outros, como eu, se comprazem em falar apenas com quem divide o mesmo gosto.
Meu hiperfoco se mistura diretamente com o colecionismo. As pessoas não entendem porque tenho 10 edições de um mesmo livro, mas é apaixonante contemplar novas capas, diferentes traduções, adaptações, etc. Então, o sentido que isso tem para mim vai além do que pensam os outros, os quais pensam que as 10 edições são exatamente iguais.
Ter acesso a meu hiperfoco (livros) no lugar e na hora em que desejo ajuda na autorregulação, dá-me a sensação de segurança e de pertencimento.Talvez por isso, pela sensação de segurança, eu prefira os clássicos.
O prazer se alia a expertises nos hiperfocos; portanto, as pessoas deveriam ter muito cuidado ao pensar que isso ou aquilo é melhor para o autista, e ao baixarem ordens padrão. Afinal, a frustração que pode acompanhá-lo na privação de seu hiperfoco em certos momentos que lhe são necessários, ou quando ele está em face de aumentar seu conhecimento, pode causar-lhe tanta dor, insegurança e sentimento de abandono que o fato de levá-lo a outra atividade, pensando que ampliará seus interesses, torna-se um propósito cruel.
Como adulta e dona de mim, no máximo, ouço críticas e continuo meu movimento como penso ser o melhor. Mas, para autistas crianças e com níveis de suporte mais comprometidos, deve-se pensar bastante, ter estratégias e realmente fazê-lo se for necessário para “aquele” indivíduo. Já há muitos traumas na vida regular para se administrar, não seja o causador de mais um. Respeite “a” pessoa e o seu momento.