Qual a hora certa para alfabetizar a criança autista?

Qual a hora certa para alfabetizar a criança autista?

Por Cláudia Moraes

Vice-presidenta da ONDA-AutismoS; Especialista na Educação na Perspectiva do Ensino Estruturado; Mestra em Educação com especialização em formação de professores; Professora Honorária do The Nora Cavaco Institute- International Center of Neuropsychology & Autism.


“ Cada criança autista terá uma medida diferente de sucesso.” (Bennie, 2015, online)



Quando um profissional fala sobre prontidão para alfabetização de crianças autistas, e coloca isso como algo esperado aos 07 anos, fico bastante apreensiva que pais vejam isso e se iludam, ou cobrem das crianças por coisas para as quais ainda não estão aptas.

Crianças TEA podem apresentar prontidão para aprendizagem em épocas diferentes das crianças típicas. Seu ritmo e ordem na questão podem também ser também diferenciados, aprendendo antes ou depois.

“...muitos alunos TEA podem estar mais aptos para lidar com questões de aprendizagem aos 20 anos do que estavam com 10; sendo que ao chegar a idade adulta, possam ter aprendido a lidar melhor com os comportamentos, gerir conflitos relativos ao stress/ansiedade, etc.”

Habilidades que propiciem prontidão para a alfabetização se desenvolvem ao longo do tempo, como a atenção, a linguagem, questões motoras, organização do pensamento, etc. Quando falamos em tempo, o de cada autista é diferente, assim como suas características próprias, e isso deve ser respeitado.

De acordo com a linha de pensamento de Anne Roux (cientista do Programa de Pesquisas de Resultados de Curso de Vida no Instituto AJ Drexel de Autismo na Filadélfia EUA) “aprender é uma atividade a ser exercida ao longo da vida”. Por isso, penso que impor ritmo de aprendizagem no autismo é temerário, embora devamos sempre priorizar o ensino de habilidades onde haja prontidão.

No texto “Kids with autism need pre- vocacional skills early” no blog Empower Autism há uma afirmativa que apenas 6% de autistas adultos estão empregados, e ressaltam que embora alunos TEA americanos recebam formação e concluam o ensino médio, não foram preparados eficientemente em relação a desenvolver habilidades para vida e para o trabalho. O que nos dá a ideia de que a formação é importante sim, mas que priorizar o desenvolvimento de habilidades é tão importante quanto.



FONTES: Revista Autismo n°4, “A educação de pessoas adultas TEA” – por Cláudia Moraes

LEON, Viviane De e Org, Autismo como transtorno do implícito e outros desdobramentos terapêuticos, cap.8 por Cláudia Moraes