Inclusão escolar é um sacrifício?

Inclusão escolar é um sacrifício?

Fernanda Marcenes
Conselheira municipal de Ouro Branco-MG da Onda-Autismo e mãe atípica


Muito se sabe do quanto é desafiador praticar a inclusão dos estudantes
neurodivergentes nos espaços escolares, bem como em outros espaços sociais, sobretudo com
os alunos autistas, que possuem inúmeras características particulares de percepção do ambiente
que os cerca, tornando-os altamente suscetíveis a essas influências.
Ainda hoje, em um contexto contemporâneo da educação inclusiva, entendo que há uma
orientação nos moldes da educação com o foco voltado para a “deficiência” da pessoa. Há
sempre uma tentativa de “consertar” algo que está com defeito, de curar, de melhorar as
“deficiências”. A atenção é voltada para o indivíduo como se lhe faltasse algo. A diferença, então,
torna-se um atributo negativo, que assusta e distancia, podendo, ainda, desmotivar o educador
na busca por alternativas e inspirações oportunizadas e estimuladas a partir das habilidades
desses alunos - as suas diferenças.
Percebo que existem marcas de um processo histórico-cultural de resistência, que deve
ser desconstruído rotineiramente, com enfrentamento intolerante a qualquer tipo de tratamento
excludente e estigmatizado voltado a esse grupo de estudantes.
Creio que o tempo cumprirá um importante papel para a fomentação e a criação de uma
mentalidade inclusiva, na qual parâmetros e ideias antigas e limitadas deverão ser recicladas e
substituídas por um comportamento solidário, que levará à prática de ações colaborativas,
inovadoras e flexíveis, que buscarão solucionar os problemas nas situações de diferenças, ao
invés de interpretá-las como empecilhos.
O pensar e fazer “fora da caixa” - um tipo de
conhecimento importante e necessário para estar sempre em desenvolvimento em nós.
No entanto, esses estudantes vivenciam a escola hoje, agora, - e não é justo fazê-los
perderem vida por tanto tempo, oferecendo a eles uma abordagem improvisada e sem
técnica, que exclui e causa sofrimento, impactando negativamente na autoestima, na construção
da sua personalidade social, distorcendo seu sentimento de pertencimento (importante também
para pessoas autistas), interferindo na sua visão de mundo e na qualidade de vida.
Existem diversas leis que garantem os direitos das pessoas autistas, inclusive o de
inclusão escolar, mas a dinâmica é morosa e burocrática, quando em pauta nas políticas públicas
vigentes. Lento também são os processos de aceitação e mudanças de posturas diante dos
desafios diários da inclusão, mas acredito que o conhecimento seja uma ferramenta ágil e poderosa
de transformação, que ultrapassa o âmbito da capacitação técnica e sensibiliza, despertando
assim, o respeito, o afeto e a empatia – elementos humanos inatos, que são fundamentais para
a criação efetiva dessa mentalidade inclusiva.
Acredito que superando a ignorância acerca do autismo, desmistificando estigmas e
enfrentando preconceitos é que ganhamos força, para que as leis saiam do papel e haja atuação de
forma crescente, construindo ações eficientes e possíveis de serem praticadas, visando
à conscientização e à aceitação da comunidade escolar, em favor de uma educação humana mais
respeitosa, de uma convivência rica em experiências, em que todos ganham, e, mais ainda, a
comunidade autista, com amenização de sofrimento e melhoria na qualidade de vida.
Há muito a ser feito, visto que o Estado engatinha nessa esfera, e, por sorte da
comunidade, temos muita gente competente e altruísta engajada em contribuir nessa árdua
missão da inclusão escolar.

Motivada por essa demanda comum em meu cotidiano, compartilho aqui um convite a
você, educadora dos novos tempos, que almeja ser um agente de mudança e fazer a diferença
no mundo do seu aluno.
O chamado é uma oportunidade de conhecimento única, por meio de teoria
especializada aliada a vivências, o projeto “AutismoS Presente” - um projeto de Formação
Continuada Gratuita e Certificada On line – é ofertado pela Universidade UNIASSELVI, maior
instituição de ensino superior de Santa Catarina – SC, em parceria com a ONDA-Autismo.
Vamos juntos nessa ONDA fazer a diferença na vida de diferentes mundos pela vida
afora.
Com afeto,

“A inclusão acontece quando se aprende com as diferenças, e não com as
igualdades”
“O educador se eterniza em cada ser que educa”.
Paulo Freire.