Todas as mudanças, mesmo as bem-vindas e planejadas, demoram a ser processadas
Todas as mudanças, mesmo as bem-vindas e planejadas, demoram a ser processadas
Rauana Batalha A. Mendes
@rauanabatalha
Membra do Projeto TEApresentar Mulheres Autistas
Ser autista é, muitas vezes, não entender bem o que se quer. E até entender.
Mas ter dúvidas, estranhar e se sentir desconfortável com simples mudanças.
Nem todas elas, mas algumas, mesmo as mais desejadas.
Adoro cortar o cabelo. Gosto de fazer mechas e até rola uma make profissional de vez em quando.
Mas, TODA VEZ, eu me estranho.
Eu escolho corte, cores e tal, mas não entendo porque passo dias e dias tentando me acostumar com a nova aparência.
Mexo no cabelo 10.000 vezes, olho no espelho o mesmo tanto.
E não é me admirando, mas tentando me acostumar.
A profissional que sempre me atende já sabe que nem sempre eu saio do salão com cara de alegre, mesmo estando...
Quando faço maquiagem, sempre aviso para a pessoa: “Eu não quero ficar tão diferente, quero ser eu!” (claro que numa versão melhorada, né?).
Mas, toda vez, eu acho que o negócio ficou exagerado.
Que ficou muito chamativo ou sei lá o quê, mas fico desconfortável.
Agradeço a pessoa, já me desculpando por não ter ficado com a cara de satisfação que ela desejava.
Mas, aí, depois de algumas fotos e passado um tempo, eu me acostumo.
Todas as mudanças, mesmo as bem-vindas e planejadas, demoram a ser processadas.
A gente cresce, vai aprendendo a lidar com desafios gigantes e tenta se adaptar a muita coisa, mas não deixa de ser o que é: uma espécie divergente.