O orgulho autista e o orgulho em ser humano
O orgulho autista e o orgulho em ser humano
Por Cláudia Moraes
Vice-presidenta da ONDA-Autismo
A melhor resposta para o preconceito é a arte!
Acabei de assistir a um vídeo em que apareciam xingamentos xenófobos de uma inglesa a imigrantes africanos viajantes do mesmo trem que ela, mandando-os retornarem à “Negolândia”. A situação fica ainda pior porque a senhora inglesa estava com uma criança no colo. A criança assistiu à mãe fazendo uma cena dantesca daquelas, exemplificando ao filho um dos piores comportamentos. Até que uma das pessoas africanas começou a cantar a linda música do filme Rei Leão, e logo foi acompanhada por muitos outros passageiros. O coro de vozes calou a voz única da xenofobia e mostrou mais uma vez que a união é que derruba os muros. A arte venceu mais uma vez!
Refletindo sobre o dia 18 de junho, “ Dia do Orgulho Autista”, que é uma data para a celebração da neurodiversidade, percebi que é mais um dia para aumentarmos o volume da nossa voz e, em coro, cantarmos por uma sociedade justa e igualitária, para todos. Data que dá a oportunidade de nos desculparmos pelas injustiças praticadas pelas sociedades antepassadas com as pessoas autistas, ao longo da história. Autistas foram jogados de penhascos para morrer, autistas foram para as câmaras de gás, autistas foram trancafiados e esquecidos em manicômios, além de muitas outras atrocidades feitas para se extinguir os pensamentos diversos e celebrar a eugenia (“o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente").
Já caminhamos muito na defesa de direitos e leis que os legitimam, mas ainda precisamos caminhar mais, até alcançarmos justiça para as pessoas autistas e todas as minorias.
Não adianta eu levantar a minha voz pelo autismo, se me calo quando o ferido é o nível 3, porque meu filho é nível 1.
Não adianta eu levantar a voz pelo autismo, e não me solidarizar para a diminuição do alto índice do suicídio entre as mulheres autistas, porque eu sou homem.
Não adianta eu não levantar a voz e enxergar as demandas do autista idoso, porque sou jovem.
Não adianta eu levantar minha voz pelo autismo, e compactuar com o preconceito sofridos pelos autistas negros, porque sou branco.
A arte é valorada por todas as sociedades, e, pelo poder dela, muitas sociedades se modificaram. Através dela, celebramos todos os seres humanos; através dela, calamos a voz do preconceito.
Eu faço da literatura a minha arte, bandeira quanto a qualquer tipo de preconceito. A minha bandeira não é só a autista, é a humana! E, se um dia a minha luta e a minha arte forem reconhecidas, gostaria não fosse apenas pelo meu autismo, e sim por minha humanidade, que respeita e luta por todos os tipos de pensamento e suas liberdades de expressão.
Orgulho-me sim de ser autista e me orgulho ainda mais de ser humana, e que meus textos (que figuradamente aqui chamo de canto) contra o preconceito una cada dia mais vozes para que façamos do nosso país, do nosso planeta um lugar de celebração para uma humanidade realmente humana!