Seletividade Alimentar
Seletividade Alimentar
Por Tatiana Abrantes
(Nutricionista - Conselho de Profissionais)
Seletividade alimentar acontece só em Autista? Não.
Já sabemos que o indivíduo com TEA pode apresentar possível comprometimento qualitativo da interação social, comprometimento qualitativo da comunicação e padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades.
As alterações em relação aos hábitos alimentares no indivíduo com TEA se manifestam por uma variedade de sinais que podem incluir: preferência por certas texturas de comida, dieta limitada/restritiva em apenas um tipo de cor dos alimentos, consumo dos mesmos alimentos todos os dias sem nenhuma variação, limitação do ambiente onde a refeição ocorre (paciente só come se for sozinho ou se estiver usando determinado talher), além de sintomas típicos de distúrbios alimentares como jejum prolongado, indução de vômito.
No entanto a seletividade alimentar não é incomum entre as crianças que estão em desenvolvimento. Porém há uma susceptibilidade maior em indivíduos com TEA, as quais podem ser mais restritivas e este processo se estender além do período da primeira infância. Desta forma, os indivíduos que apresentam a Seletividade Alimentar têm como característica principal a exclusão de uma variedade de alimentos e muitas vezes esta fase pode ser transitória (correspondendo à fase de adaptação a novos alimentos) ou se estender ao longo do desenvolvimento da criança.
Por estes motivos acima citados, a Seletividade Alimentar é caracterizada pela tríade: pouco apetite, recusa alimentar e desinteresse pelo alimento e essas combinações provoca limitações a variedades de alimentos ingeridos, promovendo o indesejável comportamento de resistência até em experimentar novos alimentos (neofobia).
É muito importante lembrarmos que as limitações alimentares são capazes de gerar carências nutricionais e consequentemente, o inadequado funcionamento do organismo, como alterações da imunidade, alterações comportamentais, piora da disbiose intestinal, irritabilidade, alterações de crescimento entre diversos outros sinais e sintomas indesejáveis até o aparecimento de doenças.
A Seletividade Alimentar também pode ser o gatilho para o aparecimento várias doenças inflamatórias repetidas, levando a tratamentos constantes com antibióticos e outras drogas associadas que dificultam ainda mais as condições gastrointestinais e de todo adequado funcionamento da imunidade.
Comparativamente, temos em média 25% de crianças sem TEA com a seletividade alimentar, enquanto 60 a 80% das crianças com TEA são seletivas podendo se restringir em até 5 alimentos.
E a maioria das vezes, os alimentos que participam desta seletividade alimentar, ou seja, os alimentos que mais são desejados a serem consumidos, principalmente pelas crianças com TEA, são alimentos viciantes em função tanto de um processo de alergia alimentar tardia quanto pela presença de opioides que proporcionam no primeiro momento, uma sensação de conforto, relaxamento.
O funcionamento metabólico da pessoa/criança com TEA é diferente da pessoa sem TEA. Por este motivo a orientação nutricional e as orientações dos demais profissionais envolvidos nos cuidados do TEA, precisam ser elaborados de forma personalizada e com suas respectivas evoluções. Quanto mais profissionais estudiosos em seletividade alimentar, maiores as chances de sucesso no tratamento.
Devemos levar em consideração a possibilidade de Transtorno do Processamento Sensorial (TPS) que pode ser outro fator que afeta, o indivíduo com TEA, em sua habilidade de se alimentar, já que o TPS caracteriza-se por déficits em perceber, interpretar ou modular estímulos sensoriais (de natureza visual, tátil, auditiva, vestibular, proprioceptiva, gustativa e/ou olfativa).
É importante destacarmos que muitas vezes a seletividade pode surgir por motivos diversos como: traumas simples aos mais complexos; deficiências nutricionais; processos inflamatórios; o não gostar do ambiente durante as refeições; alterações na motricidade da mastigação; dificuldade de engolir; o não gostar do barulho da mastigação de determinados alimentos; o não gostar de ruídos do ambiente durante a refeição; sofrer em sintomas indesejáveis gastrointestinais; não conseguir realizar com eficiência algumas atividades motoras e por possuir distúrbios de processamento sensorial, o que as leva a escolherem ou terem preferência por alimentos através da textura; as imposições em comer grandes volumes de alimentos em um pequeno espaço de tempo entre outros motivos conhecidos e desconhecidos (por enquanto), gerando uma neofobia (dificuldade de aceitação do novo).
Quanto a questão gastrointestinal, indivíduos com TEA frequentemente apresentam disfunções gastrointestinais (episódios recorrentes de diarreia e/ou constipação, além de refluxo gastroêsofágico, alergias e intolerâncias alimentares).
Um dos cuidados para que ocorra a remissão dos sintomas neurocomportamentais dos indivíduos com seletividade alimentar, deve incluir também, a atenção a condição gastrointestinal e de detoxicação e a reposição dos nutrientes. Isso é uma etapa cuidadosa e deve ser bem orientada, pois os resultados serão muito positivos.
Repetindo o que foi dito anteriormente, o adequado funcionamento metabólico da pessoa com TEA é diferente da pessoa sem TEA. Por este motivo é de fundamental importância os profissionais envolvidos nos cuidados do TEA, serem criteriosos em suas orientações. E quanto mais profissionais estudiosos envolvidos com a seletividade alimentar, maiores as chances de sucesso no tratamento.