Setembro é o mês em que falamos muito sobre prevenção do suicídio.

Setembro é o mês em que falamos muito sobre prevenção do suicídio.

Por Fábio Cordeiro
Presidente da ONDA-Autismo


A campanha do Setembro Amarelo toma as mídias, e o assunto fica em evidência. Na comunidade do autismo, esse é um tema relevante já que temos dados alarmantes que não podemos deixar passar.

Suicídio é uma das maiores causas de morte precoce de pessoas autistas. Há anos, temos dados evidenciados em estudos científicos que nos mostram isso. No Brasil, na população geral com idade entre 15 e 29 anos, essa é a 4° maior causa, sendo a 3° entre os homens e a 8° entre as mulheres nessa faixa etária. Nesse público, os dados apontam que as mulheres apresentam maior número de tentativas, porém os homens são os que mais concluem.

Nas pessoas autistas, essa incidência ainda consegue ser maior, tornando-se a segunda maior causa, com a média até 9 vezes maior do que na população em geral. Cerca de 35% de pessoas no Espectro já tentaram o suicídio, e mais de 60% relatam que já tiveram ideações suicidas.

Ao contrário do que temos em pessoas que não estão no Espectro, em autistas, a maior incidência de atos consumados resultantes em morte se dá entre as mulheres. Pode parecer surpreendente para algumas pessoas, mas, entre os fatores de risco listados nos estudos, muitos não têm a ver com o autismo, mas sim com questões como bullying, abusos, depressão e outras comorbidades psiquiátricas.

Tais fatos deixam muito claro que um dos caminhos importantes para a prevenção se dá na busca pelo diagnóstico precoce para que as pessoas tenham a possibilidade de trabalhar desde cedo os fatores que podem acarretar essas comorbidades, como os sintomas depressivos, por exemplo, que vão surgindo com a falta de tratamentos, de autocompreensão e de subterfúgios para criar manobras nas quais as questões do meio sejam minimizadas.

Relacionando a dificuldade maior que mulheres têm de conseguir o diagnóstico, podemos entender o porquê de elas serem ainda mais afetadas por esse mal. Quando nos é evidenciado que autistas de nível 1 de suporte são os que mais contemplam essas estatísticas e que mulheres nesse nível são as que mais têm problemas para um diagnóstico precoce e certeiro, novamente compreendemos como autistas do sexo feminino são mais suscetíveis.

Muito relevante ainda ressaltar que as manobras de inclusão também são de extrema importância, pois muitos dos fatores de risco se dão pela intolerância alheia e pela falta de acessibilidade em todos os ambientes como escola, trabalho e locais de lazer.

A faixa etária que os estudos científicos nos mostram como início de um alerta mais apurado na população autista é a partir de 10 anos de idade, e a literatura indica muito enfaticamente que profissionais capacitados realizem avaliações em pessoas com TEA para análise desses fatores de risco já a partir dessa idade.

Com isso, se você tem um(a) filho(a) ou um parente autista, fique atento a qualquer sinal e não hesite em buscar ajuda. Você que não tem autistas na família, mas que cria um(a) filho(a), ensine sobre as diferenças e reprima o bullying ou qualquer forma de agressão com pessoas divergentes. Um mundo mais receptivo às diferenças também previne o suicídio, e somos todos partes importantes no combate, não apenas em setembro, mas durante toda a vida e, principalmente, na criação dos nossos filhos e filhas para um mundo melhor.