Suicídio
Suicídio
Por Pedro Ferreira
Conselho de Profissionais
Psicólogo
O suicídio é uma prática antiga e existe mesmo antes de o pai da sociologia, Émile Durkheim, publicar seu livro sobre o tema em 1897. Pessoas tiram a própria vida e não há romance nisso, há morte. Porém, atos e ideações suicidas não são meras reações químicas ou motivações alheias ao mundo. Suicídios não são reduzíveis a razões descoladas de histórias, valores, cultura, sociedade e políticas que cercam, contornam e participam intensamente de nossas decisões.
Pensar o suicídio como uma questão estritamente mental, emocional e moral, compreendendo a falta de saúde como um estar em desacordo com as demandas de nossa sociedade é insensível e insuficiente. A vida perdida é uma vida da qual todos e todas fazemos parte, e nossa compreensão deve estar apegada ao carinho de partir de nossa própria participação.
Como Freud se perguntava, por que alguém toma postura tão desvantajosa perante a própria vida? Assim como nós, suicídios também mudam. Atualmente, as maneiras que utilizamos para tirar a própria e como planejamos ser encontrados têm mudado. Ao que tudo indica, o suicídio tem cada vez mais deixado a privacidade do lar e tomado proporções públicas e até de espetáculo. O suicídio não fala apenas sobre quem se mata, ele também diz sobre quem o vive, ele também diz sobre quem vivia e aqueles que vivem. Que a incompreensão não mate tanto quanto a desinformação.
Para a comunidade autista, tanto para pessoas autistas quanto para familiares e amizades, o mesmo cuidado de aproximação também vale. O suposto alheio que supostamente define a pessoa autista é um equívoco, afinal, ainda que muitas vezes incompreendida a pessoa autista também está inserida em uma comunidade e é, a partir de suas diferenças e divergências, socializada e ocupa um lugar concreto no discurso social. Portanto, não é intocável pelo mal-estar indissociável de nossa razão econômica dominante e embaraços com os próprios desejos e relações com outras pessoas. Como qualquer pessoa, gente autista sofre, faz sofrer e deixa a própria vida.
A conscientização sobre as possibilidades de suicídio de pessoas autistas, como dentro qualquer outro grupo, é uma questão de saúde pública. Porém, também como todo grupo, contém suas particularidades e camadas de complexidade. Como a introdução ao tema que este texto pretende ser, proponho o seguinte ponto de partida: pessoas autistas sofrem, logo, também precisam lidar com seus sofrimentos. E, dito isso, como escutar o que elas têm a dizer? Sugiro perguntar. Pode ser um bom começo.